A Arquitetura do Sono

A Arquitetura do Sono

 

O sono é separado em dois estágios: sono NREM e sono REM. REM, do inglês, significa “movimento rápido dos olhos” e é quando a pessoa apresenta essa movimentação ocular durante o sono. Assim separou-se o estágio em que não havia esse fenômeno de sono NREM e o outro que tinha de sono REM. As diferenças de ambos se dão pelos tipos de neurotransmissores, suas atuações no corpo durante cada estágio e principalmente o padrão de ondas visto em um eletroencefalograma (EEG). O padrão de atividade cerebral no EEG caracteriza os diferentes estágios do sono, sendo observados os tipos de ondas cerebrais e a sincronização cortical. Esses aspectos resultantes dos circuitos talamocorticais e dos processos de despolarização ou hiperpolarização neuronal. 

 

Sono NREM

O sono NREM é o primeiro que acontece durante a noite e é nele que ocorre um aprofundamento do sono. Ele é separado em três estágios (N1,N2 e N3, esse último também chamado de sono de ondas lentas). Nos estágios N1 e N2, predominam-se ondas tetas, já no N3 ondas deltas. As ondas deltas surgem a partir da hiperpolarização dos neurônios do circuito talamocortical por meio da inibição de projeções gabaérgicas aos núcleos colinérgicos e monoaminérgicos localizados na formação reticular. Isso gera ondas de baixíssima frequência, alta amplitude e sincronizadas no EEG. Nesse estágio também ocorre redução significativa do tônus muscular pela hiperpolarização na placa motora de fibras musculares.  Os movimentos oculares são ausentes ou lentificados. 

O sono de ondas lentas está relacionado com o processo S, sendo que quanto maior for o tempo acordado maior será a quantidade desse sono na próxima noite/cochilo, sendo considerado o sono reparador do desgaste energético causado pela vigília. 

Durante o sono NREM prevalece o sistema parassimpático com conservação de energia, predomínio de metabolismo anaeróbico e redução da atividade cardiovascular e respiratória. A pressão arterial e a frequência cardíaca também reduzem. 

 

 

Sono REM

Antes do início do REM, neurônios acetilcolinérgicos na ponte se tornam ativos e desencadeiam várias consequências, primeiramente a atonia pela hiperpolarização de neurônios motores pela ação de neurotransmissores inibitórios. Depois desencadeia ondas de atividade que vão para o núcleo geniculado lateral e depois para o córtex occipital, assim ativando o sistema visual, sendo chamadas de ondas ponto genículo-occipitais (PGO). 

Assim ocorre uma mudança no padrão eletroencefalográfico das ondas cerebrais, mudando de uma atividade sincronizada para uma dessincronização cortical. Seu início e manutenção são mediados pela ativação de neurônios colinérgicos nos núcleos tegmental pedunculopontino (PPT) e tegmental dorsolateral (LDT) no tronco encefálico. Essas fibras colinérgicas ascendem ao tálamo e estimulam o córtex cerebral, gerando frequências mistas de ondas cerebrais, se assemelhando ao estado de vigília. As ondas são de frequências mistas e de baixa voltagem, ondas alfa e teta. Os neurônios colinérgicos dos núcleos LDT e PPT da formação reticular levam a surtos de despolarização dos neurônios talâmicos e piramidais. 

A presença de ondas PGO inicia o sono REM, e a densidade dessas ondas reflete a quantidade de movimentos rápidos dos olhos. Curiosamente, as ondas PGO provavelmente devem estar relacionadas com os sonhos, devido à sua ativação de áreas visuais. 

O sono REM é um período de grande atividade. No estágio N3, o metabolismo de glicose cerebral reduz 12% comparado à vigília, já no sono REM aumenta em 16%. Esse estágio é caracterizado pela perda de controle homeostático central. Nele ocorre ausência de tônus muscular, aumento da frequência respiratória e diminuição da frequência cardíaca e queda na temperatura corporal central pela inibição de tônus muscular e ausência de “shivering”, (estremecer, do inglês). A temperatura corporal cai ao longo da noite chegando em seus menores níveis nas últimas horas de sono. Assim como o sono modula a regulação da temperatura corporal, essa regulação também regula o sono. 

 

Ciclo Ultradiano

Durante o sono existe um ritmo ultradiano, onde as etapas do sono se alternam. Os ciclos do sono duram de 90 a 100 minutos, se repetindo 4x ou 5x durante a noite. O sono NREM constitui 80% do sono e possui três estágios, durando aproximadamente 60 minutos por ciclo, sendo mais prevalente no início da noite. O sono REM por sua vez dura aproximadamente 30 minutos a cada ciclo e é mais prevalente na segunda metade da noite. 

 

 

Referências

  • Haddad, Fernanda; Gregório, Luis. Medicina do Sono. Barueri: Manole; 2017
  • DelRosso LM, Ferri R. Sleep Neurology. Springer Nature; 2020.
  • ‌‌Eagleman D, Downar J. Brain and Behavior. Sinauer Associates, Incorporated; 2023.
  • Rizzo, Vitor Bonk. O Misterioso Mundo do Sono. Tecnodata; 2024.

 

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